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Histórias fílmicas que valham a pena. Fotos insignificantemente indispensáveis.

segunda-feira, maio 15, 2006


V DE VINGANÇA

Lá pelos idos de 1985, eu entrei na faculdade de cinema, e como todo bom estud universitário, achava que iria mudar o mundo com idéias novas e ideais que eram descobertos a cada nova aula por mim e por meus amigos.Tanto que para um trabalho, se não me falha a memória para Teoria da Comunicação, meu grupo teve a brilhante idéia de mostrar um cara vestido de político/empresário (de terno), segurando uma máscara de homem sério com sorriso amarelo fazendo um discurso super burocrático e panfletário. De repente esse "ator" tira a máscara de político e o terno e fica com uma cara de palhaço se dizendo parte da população que não aguentava mais ser feita de palhaço por esses engravatados. Daí o palhaço começa passar a mão no rosto tirando a maquiagem e fazendo um discurso enfezado de "vamos deixar de ser idiotas e falar e fazer e blá blá blá…"

Bom, pra um primeiranista de faculdade, achamos genial o que fizemos. Quando fomos discutir com o resto da turma e ouvir o que os professores tinham achado, a primeira coisa que ouvimos do primeiro professor foi que o palhaço, o político e o cara de cara lavada todos tinham meio que o mesmo discurso, tentando levar a população pro lado de cada um, falando alto, falando de um lugar mais alto que o resto do povo, sempre distanciados. O que nos deu nota baixa no trabalho foi exatamente isso, não termos achado um tom próximo do povo, de como o povo deveria ser aproximado, de como o povo deveria ouvir alguma coisa diferente do mesmo.

Mais ou menos na mesma época desse ido 1985, Allan Moore lançava por ali a graphic novel V For Vendetta contando a história de um terrorista que destrói o parlamento britânico para ser ouvido. E que acaba sempre usando atos parecidos aos usados pelo governo autoritário e ditatorial que ele lutava contra.

E no fim, esse é o grande problema dos terroristas e dos anarquistas e dos burocratas e de quem quer ser ouvido de uma forma ou de outra: todos eles devem gritar mais alto e falar diferente do povo, da população que teria que ouvir e ao gritarem, acabam se parecendo no grito, gritando da mesma forma, falando diferente mas falando alto, falando de longe e ficando distante e diferente de quem ouve, e se aproximando um do outro, opressor e anarquista.

O bom do V De Vingança, o filme recém lançado, é que mostra muito bem isso numa sequência de arrepiar: Evey, a "mocinha" do filme, vivida brilhantemente pela magrela Natalie Portman, é presa pela polícia e mantida numa solitária sofre pressão psicológica, tortura, tudo pra contar quem é o tal do V, o terrorista mascarado do filme. Ela se esforça, sofre e não conta. Depois de muito tempo sofrendo, ela um dia é solta de sua cela e descobre que quem a estava torturando era o próprio V. Fica bem brava e parte, se sentindo traída e usada. Nesse momento fica bem claro que os meios independem do lad, se do lado do "bem" ou do lado do "mal", as pessoas sempre usam das mesmas formas para conseguirem o que querem.

Essa na minha opinião é uma sequência crucial para um filme que muito atacado antes mesmo da sua estréia pelo criador dos quaddrinhos que renegava a película porque o roteiro fugia muito da história original. Adoro Moore, mas ele tem se mostrado cada vez mais e mais ridículo com esse tipo de comentário. Todo filme novo baseado em sua obra é atacado por ele antes mesmo do lançamento. E mesmo assim ele continua vendendo os direitos de suas histórias para o cinema. Então, ô mala, ou cala a boca ou pára de encher o bolso de dinheiro, porque é fácil falar isso tudo sendo milionário, né?

Uma outra coisa que me irrita muito e que cada vez mais eu tenho lido por a, principalmente dizendo respeito a esse filme, é o termo "liquidificador cultural" ou " caldeirão cultural": é só lançarem um filme baseado em quadrinhos que lá vêm os críticos dizerem que o diretor é multi referencial, que é super ligado em tudo o que acontece de nvoo pelo mundo, que é pop e o caralho! Pelo amor de deus: isso é o mínimo que se espera de um diretor de cinema nos anos 2000's, que pelo menos leia quadrinhos, ouça música pop, vá ao circo e saiba o que aconteça no mundo ao seu redor. Tenho certeza que no começo do século passado, os diretores de cinema eram os caras mais antenados e ligados no que acontecia pelo mundo em geral, no mundo pop mesmo. Mas as pessoas sempre esepram uma erudição besta e explicações bestas para tudo. Às vezes as erudições e as explicações estão na sua cara e você só não as enxerga porque não quer.

Voltando ao filme: o elenco desse filme é um primor, só ator inglês fodão em papéis muito bons, como Stephen Rea fazendo o policial investigativo e dócil, John Hurt fazendo um ditador orwelliano que lembra muito seu papel em 1984 misturado com um hitler à lá The Wall, Stephen Fry como um gay apresentador de tv que quando resolve ir contra o sistema é capturado pelo "homem do saco", e fazendo o grande papel de sua vida depois do travesti de Priscila Rainha do Deserto, o grande Hugo Weaving como o doido mascarado que assombra a Londres oprimida em um futuro próximo, onde os Estados Unidos se tornaram um problema para o resto do mundo com sua guerra civil e sua perdição iniciada pelo governo Bush. Sim, o filme é crítico, não é só um filme de ação e explosões. Tá, pode dizer que a crítica é rasa, besta, mas tá lá, só não vê o que tá escondido atrás dos detalhes quem não quer.

Natalie Portmann é uma garota filha de pais mortos numa tentativa de revolução que não levou a nada, cai por acaso nas graças do mascarado e com ele acaba se unindo enquanto a paranóia de tempos sombrios a deixa aguentar. Evey, sua personagem, é frágil e forte ao mesmo tempo, é franzina e parece uma gigante com um spray de pimenta nas mãos. E não poderia ser mais diferente do mascarado com quem vai acalorando uma relação de paixão, medo, confiança, temor, tudo muito ambíguo. Esse mascarado é mostrado várias vezes no filme como o produto de uma experiência médica mal realizada avalizada pelo governo ditatorial, meio que nos moldes dos nazistas. Ele aparece saindo do meio do fogo, meio que renascendo das cinzas e dali saindo forte e poderoso para começar a lutar contra quem o transformou no que é hoje. Já Evey, renasce na água, numa chuva, descobrindo que sua força é mais pura que a dele, mais diferente impossível, e ao mesmo tempo complementar, porém, um complemento perigoso: a água não vive com o fogo e vice-versa. Essa cena, aliás, é uma das referências lindas do filme: muitos filmes geniais têm sequências em cima de telhados, sob a chuva, para selar destinos e resolver questões importantes e fundamentais, dentre eles O Fantasma do Paraíso e Blade Runner. E é de Blade Runner, aliás, que viem as maiores referências visuais desse V: o povo andando com os guarda-chuvas pretos na rua, o botânico com lente de aumento modificando uma orquídea e essa cena do telhado linda linda.

Por fim, o mais bacana é que o filme foi dirigido por James McTeigue assistente de direção dos Wachowski e não pelos próprios como sempre se apardeou.

Que venham mais!

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