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Histórias fílmicas que valham a pena. Fotos insignificantemente indispensáveis.

sábado, junho 12, 2004

Hoje tive a surpresa do ano, provavelmente, no cinema: O Retorno, filme lindo, perdido no cinema aqui em São Paulo, passando em 2 salas, numa delas só as 2 da tarde.
De vez em quando, beeeeeem de vez em quando, eu saio do cinema com uma pontinha de inveja branca, (se é que esse termo existe, mas já usarram comigo), que é a inveja saudável, e nesse caso, saio de um filme com a vontade de tê-lo feito. Mas esses momentos são super raros, cada vez mais, não sei se pelo fato de eu me tornar cada vez mais exigente com o passar do tempo, de cada vez ter menos paciência com as coisas, ou por causa da tal da "sabedoria que vem com a idade", mas eu sei que cada vez menos assisto um filme que me dá essa vontade.
Pois hoje, um sábado de chuva, sábado de dia dos namorados e eu sozinho (hehehe), saio do cinema com essa sensação, uma das melhores que eu conheço, a sensação de júbilo por ter presenciado uma obra prima.
O filme é simples, tão simples quanto um filme pode ser: numa cidadezinha russa, dois irmãos entrando na adolescência, naquela fase de compartilhar tudo, amigos, brincadeiras, brigas, voltam pra casa um dia e descobrem que seu pai, que havia desaparecido 12 anos antes, voltou e está no quarto dormindo, desansando.
No primeiro jantar, ele age como se nada tivesse acontecido, como se seu sumiço não tivesse acontecido e jea combina uma viagem com os meninos pro outro dia.
Isso tudo é mostrado da forma mais simples, tranquila, quase anódina pelo diretor, desde a escolha da locação da cidade onde eles moram, um lugar lindo, plácido, até a casa da família, sem nada que interfira muito na ação, sem anda que tire a atenção ou que distraia o espectador, aquela direção de arte que parece que não existe, a beleza da sutileza.
Aliás, sutil é o adjetivo mais apropriado pra esse filme.
E a sutileza da família vem ser mudada pela volta do pai.
No jantar, os pratos são um frango assado disposto numa tijela no meio de batatas cozidas, ao lado de uma vasilha com frutas vermelhas e uma garrafa de vinho.
O pai, ao se sentar à mesa, destrincha o frnago com as mãos e o serve, ordenando a mãe que sirva vinho aos filhos para brindar. A sutileza começa a ser posta de lado com a volta de uma rotina que nunca existiu.
No quarto do casal, uma cama com lençóis que, apesar de cetim, mostrando uma sensualidade que ainda existe na esposa, snao de cetim azul, não vermelho ou preto. O sutil.
Isso num quarto onde além da cama só existe uma cadeira pra colocar o roupão tirado, uma mesinha com um espelho, pequeno, em cima e uma máquina de costura no canto.
A mulher se despe, fica com um pijama curto, mas discreto, deita-se na cama e espera o marido que se deita e não faz nada. Dorme.
A trilha sonora do filme é esplendorosa. Sons que eu não esperava ouvir nos momentos que eu não esperava ouvir nada.
Genial.
A viagem de carro começa, o pai e os dois filhos indo pescar.
O filho mais velho atento, transbordando saudades de alguém que não conhecia e transbordando felicidade por tê-lo (re)encontrado.
O filho mais novo (o genial Ivan Dobronravov, um moleque de 14 anos d idade, com cara de mais novo, que esbanja talento, que dá um show de interpretação, uma aula de acting) desconfiado, não sabendo ainda se gosta ou não da situação e que dorme durante a viagem pra se esconder, provavelmente.
As situações, por mais banais que sejam, como almoçar num restaurante numa cidade desconhecida, conversar sobre pesca, fazer perguntas sobre o passado do pai, todas elas vão tornando a situação cada vez mais constrangedora, fazendo ao mesmo tempo que os três, o pai e os dois filhos, tentem ser sutis no que dizem um pro outro, tentem dizer o que pensam para quebrar o gelo que existe da não relação de anos e acabam tornando tudo cada vez mais difícil, até momentos de total desespero.
Não vale a pena contar o resto da história do filme, o que vale ser dito é do primor estético, da fotografia belíssima, da trilha (de novo) primorosa, das atuações de todo o elenco, inclusive a avó que nada diz, mas que muito expressa com seu silêncio.
O diretor, Andrei Zvyagintsev, em seu primeiro filme, é o tipo de diretor que não tem preguiça de colocar a câmera no melhor lugar pra ter o melhor enquadramento pra cada cena, é o tipo de diretor que encontramos cada vez menos no cinema hoje, o diretor sem preguiça de enquadrar.
Por tudo isso, O Retorno deve ser visto e revisto e em momentos de dúvidas e questionamentos cinematográficos, que são cada vez mais comuns hoje em dia, um filme que deve ser lembrado.
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