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Histórias fílmicas que valham a pena. Fotos insignificantemente indispensáveis.

sábado, abril 24, 2004

Elefante é o melhor filme dos últimos anos.



E provavelmente o melhor de alguns anos que virão.
Tive quase essa sensação ao assistir Dogville , o petardo de Lars von Trier com o furacão Nicolle Kidman detonando todos os dogmas e padrões dos americanismos, para todos nós tão familiares.
Eu estava absolutamente desacreditado em relação a Gus Van Sant desde há muito. Seus últimos filmes todos tinham sido absolutamente decepcionantes pra mim, inclusive o pseudo-maravilhoso, erroneamente incensado Gerry, a tentativa estapafúrdia de fazer cinema iraniano com idéia pífia e atores bonitinhos-mas-ordinários.
Meu espanto começou quando Elefante ganhou a palma de ouro em Cannes o ano passado e o prêmio de direção.
Fiquei ansioso pra assistí-lo e feliz ao saber que a Mostra de Cinema iria exibí-lo.
Fui à primeira sessão do filme e saí de lá sem forças pra ver mais nenhum, o que durante a Mostra é impensável pra mim, já que assisto pelo menos uns 3 por dia.
Muito coisa me espantou no filme.
E espantar é um verbo absolutamente apropriado pra sensação que me causou o filme.
Elefante, definitivamente, não é um filme fácil e imagino que uma preocupação desde o início do projeto teria sido o fato de se fazer um filme onde todo mundo já saberia o final da história: uma recriação da chacina ocorrida no colégio em Columbine onde dois estudantes mataram várias pessoas entre colegas e funcionários dentro da escola.
O tema tinha sido discutido exaustivamente pelo polêmico Michal Moore no seu Tiros em Columbine, o filme que aponta o dedo para as feridas e pecados americanos em relação ao comércio legal e ilegal de armas de fogo de uma forma não muito ortodoxa filosoficamente falando.
Voltando a Elefante, as sutilezas do filme (o oposto de Tiros) é o que mais impressiona.
Uma coisa que me deixou estupefato é a delicadeza como Van Sant apresenta todos os personagens do filme, sem nenhum julgamento de valor, sem nenhum preconceito ou qualquer coisa parecida. Os dois meninos assassinos são mostrados com o mesmo peso e a mesma importância que a menina nerd e excluída ou que o estudante de fotografia bacana.
Os planos são longos, as cenas não são cortadas e são repetidas do vários pontos de vistas diferentes. A câmera “segue” essas pessoas pela escola e elas se cruzam e as cenas se repetem de outras formas, na verdade não se repetindo e mostrando quase novas versões da mesma história.
Um não-Rashomon.
E o diretor nos brinda com alguns momentos de delicadeza no meio da barbárie anunciada.
Um slow quando o garoto loiro brinca com o cachorro segundos antes da dupla assassina entrar na escola, passando por ele e avisando que algo ruim vai acontecer. É a calmaria antes da tempestade, o prenúncio poético do terror.
Outra cena tocante é a hora que o menino que vai matar todo mundo toca Sonata Ao Luar de Beethoven ao piano, no porão da sua casa, onde vive em meio à publicações sobre armas, desenhos estranhos, um computador onde joga games violentos e uma tv onde assite um documetário sobre Hitler.
O filme é lindo.



Até que se inicia a chacina, quando vira quase um gore.
Só que nesse caso, o gore nos dá enjôo de verdade, porque acreditamos no que está acontecendo.
Aliás, essa, na minha opinião, é a grande qualidade do filme: nos fazer acreditar no que estamos vendo na tela.



Apesar de já sabermos o que íamos ver, de já sabermos o que estava por vir.
Diferente de um filme como A Paixão de Cristo, por exemplo, onde já conhecia o roteiro inteiro do filme, já sabia que ele ia morrer na cruz no final, mas não me comoveu nem um pouco. O Cristo super herói de Mel Gibson , que sobrevive às chibatadas horrendas e absurdamente mostradas no filme, que carrega a cruz, que é prepotente, mal educado ao extremo, num filme de absurda propaganda católica, fez com que no fim eu quisesse sair logo do cinema de cansado que estava de assistir àquele exercício estilístico besta. Fiquei com a impressão de que o ex-Coração Valente quer se tornar um diretor de filmes publicitários.
Enquanto isso, Van Sant prova que um bom filme independe da polêmica besta (Paixão, Tiros), independe das enormes quantias gastas na produção (lista infinda de títulos) mas depende da mão sutil, depende da forma bem acabada de como fazer e do que mostrar.
O Gus é meu herói.
Be happy:
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